Pesquisas científicas têm mostrado que ter plantas por perto, seja em casa ou no trabalho, reduz o stress, ajuda na concentração e na criatividade. Além disso, elas servem para limpar o ar. Por isso, cada vez mais o conceito de design biofílico tem sido aplicado na arquitetura e na decoração de interiores.
Utilizado pela primeira vez pelo biólogo norte-americano Edward Wilson, nos anos 80, o termo biofilia tem relação com o amor pela natureza. Atualmente, tem sido cada vez mais estudado e ganhado novos significados, o mais popular deles a necessidade humana de estar em contato, interagir e se relacionar com a natureza. Derivado desse conceito, o design biofílico é o termo usado na arquitetura e na decoração para estudar as diferentes formas de levar a natureza para perto das pessoas, em todos os ambientes.
Apaixonada por plantas, a arquiteta e paisagista Luciana Stinieski criou uma empresa especializada em levar mais verde para espaços corporativos e lares, a Flo-ra Arquitetura e Paisagismo, onde o design biofílico é aplicado nos projetos. “A Flo-ra surgiu de uma necessidade pessoal de contato com a natureza. Sentia falta dessa experiência na rotina do dia-a-dia, no escritório e em casa. Aos poucos, fui enchendo minha vida de plantas. Ao perceber o bem estar que elas proporcionavam, senti vontade de compartilhar essa sensação. Encontrei minha realização pessoal e profissional na união de arquitetura, design e natureza”, explica.
Além de projetos de arquitetura e paisagismo, a Flo-ra desenvolveu uma linha de produtos com objetivo de “levar a natureza em pequenos formatos para dentro de casa”, segundo Luciana, que incluem terrários (pequenos ecossistemas, com pedras e plantas, montados na maioria das vezes em recipientes de vidro) e kokedamas (técnica japonesa que fornece uma alternativa para suspender, sem nenhum tipo de vaso, espécies de plantas que precisam de terra, envolvendo as raízes em uma bola compacta de terra e musgo). “As pessoas dizem que não têm plantas em casa porque não sabem cuidar. Então, decidi trabalhar com técnicas que demandam poucos cuidados. Os terrários devem ser regados com pouca água de 15 em 15 dias ou uma vez por semana em meses muito quentes. Já as kokedamas precisam ser hidratadas uma vez por semana”, conta Luciana.
A arquiteta vende os arranjos separadamente, por encomenda, ou os inclui em diversos projetos, como o da loja de sapatos Glam Shoe Boutique. Como a marca precisava crescer, Luciana foi convidada para criar o projeto da nova sede em um espaço maior, com pé direito duplo e mezanino. “Era preciso ampliar a área de exposição dos produtos e o estoque”, relata. Ela desenvolveu o trabalho em parceria com a arquiteta Belisa Peres.
Para isso, a Luciana aplicou a linguagem minimalista combinando elementos da estética industrial com a natureza, incluída no projeto por meio das kokedamas e dos vasos com folhagens nas prateleiras, além da utilização de materiais naturais como madeira e sisal. Colocar plantas entre os produtos, segundo ela, deixou o espaço mais aconchegante, proporcionando maior sensação de bem-estar durante as compras.
Na nova loja, o mobiliário antigo (estantes brancas, caixa e gaveteiro de laca fendi) foi incorporado à nova proposta, com pequenas alterações para combinar com os novos móveis, feitos com compensado naval e ferro. Na vitrine, a arquiteta projetou uma floreira para abrigar o cróton, folhagem com tons verde, amarelo e cereja.
Outro projeto comercial onde Luciana aplicou o design biofílico foi a da Loja Ellas, que mudou de endereço em 2018. O grande desafio, conforme a arquiteta, foi aproveitar ao máximo os itens existentes, projetando apenas o que fosse necessário para complementar o espaço, que era menor. “O resultado foi surpreendente. Conseguimos incorporar praticamente tudo que já existia, sem diminuir a quantidade de araras e produtos”, comenta.
Ela adicionou novos provadores, bases para os manequins da vitrine e um painel de madeira, além de investir na iluminação. Para decorar, a aposta foi um tapete feito sob medida e muitas folhagens. “Para conseguir o efeito desejado, escolhemos diversas plantas, de diferentes tamanhos. Tem mais de um tipo de palmeira, pacová, samambaias, jiboias, entre outras”, relata a arquiteta.
Kokedamas e terrários
Luciana relata que, para quem gosta de trabalhos manuais, fazer kokedamas e terrários pode virar uma paixão, basta ter paciência. Ela dá oficinas e na internet há vários vídeos explicando passo a passo de cada tipo de arranjo. Por isso, a dica da arquiteta é tentar. “Como há diversas técnicas, quanto mais fazemos, mais aprendemos a fazer e vamos desenvolvendo técnicas próprias”, afirma.
Em relação às kokedamas, é preciso prestar atenção nas amarrações de raízes, musgos e argila. “Faz bastante sujeira e é demorado, por isso criei um linha de produção quando preciso produzir muitas, montando por etapas”, explica. Para produzir os terrários, a maior dificuldade é comprar os materiais adequados. “Há vários tipos de pedras e plantas. A dica que eu daria para quem está começando é optar por recipientes com boca larga, que facilitam a montagem”, completa.
Fotos: Belisa Peres e Marcelo Donadussi (Loja Glam – Shoe Boutique), Marcelo Donadussi (Loja Ellas), Flo-ra (kokedamas) e Casa de Alessa (terrário).