Projeto de escola sustentável representa primeira vitória brasileira em 12 anos de Prêmio Internacional RIBA

O escritório brasileiro Aleph Zero, dos arquitetos curitibanos Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes, venceu o Prêmio Internacional RIBA (Royal Institute of British Architects) neste ano pelo projeto Moradias Infantis, em Formoso do Araguaia (TO), elaborado em parceria com o designer Marcelo Rosenbaum e a sócia dele, a arquiteta Adriana Benguela, que assina o trabalho como responsável técnica.

O reconhecimento é concedido a cada dois anos para um edifício que exemplifique a excelência do projeto e a ambição arquitetônica, além de proporcionar um impacto social significativo. É um dos prêmios de arquitetura mais rigorosamente julgados do mundo, com todos os edifícios de uma longa lista visitados por um grupo de especialistas internacionais. O anúncio ocorreu no dia 20 de novembro e o complexo foi escolhido por um grande júri presidido pela renomada arquiteta Elizabeth Diller (DS + R).

Em 12 anos de existência do prêmio internacional, é a primeira vez que brasileiros são laureados. Paulo Mendes da Rocha recebeu em 2017 a RIBA Gold Medal, mas fora do prêmio. Na opinião do presidente do RIBA, Ben Derbyshire, o projeto Moradias Infantis oferece um ambiente excepcional projetado para melhorar a vida e o bem-estar das crianças da escola. “Ele ilustra o valor imensurável do bom projeto  educacional”, completa.

O prédio oferece alojamento para 540 crianças entre os 13 e os 18 anos que frequentam a Escola de Canuanã. Os alunos vêm de áreas remotas do país, alguns viajando muitas horas de barco. Financiado pela Fundação Bradesco, o Moradias Infantis é uma das quarenta escolas administradas pela entidade, que oferece educação para crianças em comunidades rurais em todo o Brasil.

Para os autores do projeto, o trabalho mostra como a arquitetura pode ser uma ferramenta de transformação social. Eles trabalharam de perto com as crianças para identificar as necessidades delas e desejos para a escola. Os arquitetos queriam criar um ambiente que pudesse ser uma casa longe de casa, onde os estudantes pudessem desenvolver um forte senso de individualidade e pertencimento.

Cobrindo uma área de quase 25 mil m2, o Moradias Infantis é organizado em dois blocos idênticos: um para meninas e outro para meninos. As residências estão centradas em torno de três pátios amplos, abertos e bem sombreados ao nível do solo, onde a acomodação do dormitório está localizada. No primeiro andar, há espaços comuns flexíveis que vão desde espaços de leitura e salas de televisão até varandas e redes, onde as crianças podem relaxar e brincar. Para Rosenbaum e Benguela, “o espaço facilita a interação entre o público e o privado, e a socialização entre o coletivo, a natureza e o indivíduo, reconectando crianças e jovens às suas origens e ao ecossistema circundante”.

Sem necessidade de ar condicionado

O ecossistema em torno do complexo – particularmente o clima tropical, onde as temperaturas chegam a meados dos anos 40 no verão – foi um dos principais desafios inteligentemente abordados pelos arquitetos. O grande telhado,  cuja estrutura é composta de vigas e colunas de madeira laminada cruzada, fornece sombreamento. O projeto de dossel suspenso criou um espaço intermediário, entre o interior e o exterior, dando o efeito de uma grande varanda com vista para a paisagem circundante e criando um ambiente confortável sem necessidade de ar condicionado.

O edifício é construído com recursos locais e baseado em técnicas da região. Blocos de terra feitos à mão no local foram usados para construir as paredes e treliças, escolhidos pelas propriedades térmicas, técnicas e estéticas. Além de ser rentável e ambientalmente sustentável, esta abordagem cria um edifício com fortes ligações ao meio e à comunidade que serve.

Entre os prêmios que o projeto da Aleph Zero ganhou  anteriormente estão o Prêmio APCA 2017, da Associação Paulista dos Críticos de Arte, na categoria Obra de Arquitetura no Brasil, o 5º Prêmio Saint-Gobain de Arquitetura – Habitat Sustentável, o Prêmio ArchDaily Building Of The Year 2018, na categoria Melhor Edifício de Arquitetura Educacional do mundo e o Prêmio de Arquitetura Tomie Ohtake AzkoNobel.

Informações e fotos: Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, Reprodução

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