Pandemia: migração para o litoral e o campo é a discussão do momento

Paisagem - foto Fernando Guerra/ FG + SG
Especialistas falam na Casa Vogue sobre o comportamento das pessoas em busca de qualidade de vida longe das grandes cidades (Foto Fernando Guerra/ FG + SG)

A pandemia do novo coronavírus parou o mundo e restringiu a população global ao confinamento doméstico. Com o passar dos meses de isolamento social, novas demandas foram surgindo e fizeram com que as pessoas buscassem formas de melhorar a qualidade de vida na quarentena, é o que revela o Dossiê da edição de setembro da revista Casa Vogue.

Sites imobiliários identificam uma mudança nas buscas dos usuários: imóveis espaçosos, com varandas e terraços, casas em condomínios fechados de alto padrão – especialmente nos arredores da capital paulista- registram mais procura. “No ano passado, registramos 60% de consultas por apartamentos e 40% por casas, em linhas gerais. Mas, desde maio deste ano, essa porcentagem mais do que se inverteu. Está em 30% e 70%, respectivamente, tanto para aluguel quanto para compra”, afirma Marco Tulio Vilela Lima, CEO da Esquema Imóveis.

Para além disso, é possível perceber que há um deslocamento de pessoas para o litoral e o interior. A imobiliária Bossa Nova Sotheby’s International Realty reporta um aumento de 600% na procura por imóveis de campo e praia este ano. Estaríamos vivendo um êxodo urbano? É inegável que as pessoas têm buscado mais conforto, lazer e contato com a natureza para amenizar os efeitos da pandemia.

Em contrapartida a gestão pública de algumas cidades enxerga no isolamento social uma possibilidade para promover mudanças urbanas, equilibrar a proporção de emprego e moradia nos bairros e incentivar ações centradas nos pedestres e ciclistas. “Inovações relevantes surgiram por questões sanitárias. Logo, esta pandemia abre uma janela, do ponto de vista urbanístico, para a ação”, afirma a arquiteta e urbanista Beatriz Vanzolini, professora do curso Inovação Urbana, do Insper.

Restringir deslocamentos, rever velhos hábitos e voltar o olhar para dentro de si – e para o outro – foram alguns dos inesperados impactos causados pelo novo coronavírus. Reduzir o ritmo foi inevitável e, a partir desse novo paradigma de rotina, os ideais do movimento Slow Living ganharam espaço. “Trata-se de encontrar o andamento certo, apreciando o tempo em vez de apenas contá-lo. Fazer tudo da melhor maneira possível, em vez de o mais rápido possível. É uma questão de qualidade e não de quantidade, seja em qual âmbito for”, explica Carl Honoré, autor italiano do livro Devagar que se consagrou como um manifesto do movimento. Honoré ressalta que a cultura da pressa a que estávamos acostumados converteu as pessoas em máquinas tarefeiras e as desconectou de si mesmas e dos outros.

Em consonância com essa revisão de valores, a filósofa Viviane Mozé alerta para a romantização da vida no campo ou no litoral e questiona se a fuga para o interior é de fato a solução dos problemas causados pela pandemia. “Não podemos achar que essas áreas são um paraíso. É necessário repensar a vida, sim. Precisamos de mais natureza, sim. E de presença, corpo. Viver diz respeito ao agora. O resto é planejamento, delírio, mas nós empenhamos o presente em nome de um projeto de futuro.”, afirma. Mozé ressalta que a primeira transformação necessária é o autoconhecimento, mais do que se deslocar geograficamente é preciso encarar o próprio corpo, suas crenças e valores.

Confira a íntegra do Dossiê na edição de setembro da Casa Vogue.

Serviço
Revista Casa Vogue | Edição de setembro
Nas bancas em setembro

Escrito por
Mais de Eleone Prestes

Fotografia de Tonico Alvares mostra abstrações da natureza

Exposição Maraú, Brasil, de Tonico Alvares, abre sábado, dia 30 de novembro,...
Leia Mais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *