O sofá Immenso lembra a coleção da Natuzzi exposta no Salone del Mobile em Milano este ano: cada móvel contava uma história e remetia a um lugar. No caso deste estofado, fica claro que um sofá Natuzzi não é apenas um sofá. Há muitas pessoas e histórias envolvidas até a peça chegar a um showroom, obra de design e tecnologia. No caso do sofá Immenso, a narrativa que o móvel carrega começa pelo nome, justificado pelas dimensões (1m10cm de profundidade e o comprimento que a modulação escolhida contiver). Já o batismo em italiano é definido por outro motivo, também óbvio: a peça, apesar de integrar a nova Coleção Ginga, de origem e nome brasileiros, integra a italianíssima Natuzzi e merecia ter essa alusão. Apresentado pela Natuzzi Italia em Porto Alegre, o estofado que estreia agora a brasilidade na linha da Natuzzi Editions é obra da grife Lattoog, fusão de Leonardo Lattavo e Pedro Moog.
O Immenso fez bonito no Design Weekend (DW), evento de design que ocorreu recentemente em São Paulo, e, antes, na International Contemporary Furniture Fair (ICFF), em Nova York, e prepara-se para brilhar em outras paragens, como na China e na IMM Cologne, na Alemanha. Mas até o dia 28 de setembro fica em exposição no prédio erguido em Porto Alegre para acolher a Natuzzi Itália e a Natuzzi Editions (Rua Quintino Bocaiúva, 837) de Simone Gobbi e Everton Viezzer. Já começa a ser vendido, mas as entregas dos pedidos de agora vão ocorrer em fevereiro.
Para contar a história do Immenso, o arquiteto/designer Leonardo Lattavo esteve em Porto Alegre e começou narrando a conexão entre a natureza e o trabalho da dupla de criadores que assinam de pequenas a grandes peças de design. Leonardo lembra que já traduziu em móveis várias formas da natureza. Uma delas é o seixo rolado, reinterpretado em madeira, com as nuances do material fazendo referência às das pedras de rios, “uma obsessão”, com as maiores chegando a 200 quilos. Nesse ponto, vale ressaltar que ele, apesar do apreço pelos seixos, nunca os colecionou. Contudo, a sua filhinha Lina (em homenagem à Bo Bardi, mas também fusão dos nomes do pai e da mãe – mais uma fusão identificada na sua história), com três anos, coleciona pedras, sim. O pai só conscientizou a conexão entre as duas histórias ao responder à minha pergunta sobre se colecionava pedras hoje ou na infância. Quem não gosta dessas histórias de família?
Mas voltemos à relação direta dos seixos com o sofá Immenso ou como tudo começou.
– A leveza dos seixos empilhados é a tradução do Brasil – analisa Leonardo, ao mostrar para uma plateia de arquitetos (e eu) a imagem de uma pilha de seixos rolados, a origem do design do sofá que conta com várias modulações, como pedras acomodadas de diferentes formas. Chamaram a minha atenção as cores que a natureza atribuiu a cada pedra, meios tons suaves e acolhedores.
Mas o designer também conecta essa leveza com Pulha, onde encontramos a Natuzzi, que tem litoral com uma paisagem característica, com pedras que emergem da água formando esculturas.
– O contraste grande entre a pedra e o flutuar me persegue – ressalta, ao analisar o resultado do design do sofá Immenso.
Revestido de couro alvo para a estreia, poderíamos dizer que remete ao reflexo do sol na areia, com um “seixo rolado” disposto de cada lado, traduzido em braço para o estofado que conta com uma ergonomia precisa – acolhe com elegância e ao mesmo tempo abraça quem tiver o privilégio de se entregar ao imenso deleite. O couro, de curtume gaúcho, pode dar lugar a tecidos, ou seja, Immenso sempre poderá surpreender a cada proposta.
– O meu sonho é ver este braço flutuando, não só reclinando – brinca Leonardo, que destaca a tecnologia do sofá, característica da marca, e a conflluência do trabalho de várias empresas para fazer nascer uma peça de design contemporâneo como esta.
Não duvidemos que seja possível um efeito quase mágico nessa peça. O arquiteto urbanista com mestrado em Arquitetura na University College of London voltou ao Brasil em 2007, quando passou “a viver do design”, tem histórias ligadas às peças. Hoje, é professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e no Instituto Europeu de Design do Rio de Janeiro (IED-RJ). Mas, preciso contar que, em 2018, uma obra Latoog em escala gigante foi pousada na frente da Duomo, durante a Milan Design Week. Eu passei lá de madrugada, na véspera, e vi a cadeira Pantosh sendo colocada na lateral perto do Museo del Novecento e do Palazzo Reale. O assento é mais alto do que eu. Irresistível. Sim, retornei no dia seguinte para uma foto. Hoje a peça está no Brasil, no showroom da Lattoog.
Aguardemos agora os lançamentos das obras de design autoral de Furf Design Studio e Estudio Bola para a Natuzzi Editions, dois escritórios de Curitiba e São Paulo, respectivamente, que deverão arrasar também.