Fundação Iberê Camargo: TRAMA Arte Têxtil no RS e 7 Mestres do Design Gráfico Japonês

Obra de arte têxtil de Berenice Gorini exposta na Fundação Iberê até fevereiro (fotos divulgação)
Obra de arte têxtil de Berenice Gorini exposta na Fundação Iberê até fevereiro (fotos divulgação)

Duas exposições imperdíveis na Fundaçao Iberê Camargo abertas até 26 de fevereiro TRAMA: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul e 7 Mestres do Design Gráfico Japonês.

ARTE TÊXTIL

É de tirar o fôlego esta exposição (Fotos Nilton Santolin, divulgação)
É de tirar o fôlego esta exposição e uma oportunidade de conhecer uma arte possivelmente menos conhecida pela maioria das pessoas  (Fotos da exposição por Nilton Santolin, divulgação)

Com patrocínio da PETROBRAS Cultural, a exposição com curadoria de Carolina Grippa apresenta, pela primeira vez, 36 trabalhos de 17 artistas gaúchos. As tapeçarias de Erica TurkJussara Cirne de Souza e Wilhelm Horvath trazem as técnicas mais tradicionais, enquanto as de Yeddo TitzeLiciê Hunsche, Ivandira Dotto e Fanny Meimes usam a lã, mas já buscam formatos e volume na peça. Outras seguem com o formato plano, mas inovam nos materiais e no desenho, como é o caso das duas tapeçarias bordadas por Salomé Steinmetz e as de telas galvanizadas de Ana Norogrando. Serão apresentados, também, trabalhos de Heloisa Crocco, que, a partir de rede e fibra de vime, desenvolve uma peça tecida; de Sonia Moeller, que realiza um conjunto com as mais diversas técnicas, como bordado, tecelagem, colagem, entre outras; e de Arlinda VolpatoJoana Azevedo Moura, Luiz GonzagaNelson Ellwanger.

Experiência estética com o calor dos materiais
Experiência estética com o calor dos materiais

A mostra traz, ainda, trabalhos que não se enquadram no formato tapeçaria, mas tem no cerne da sua construção o tecer. Zoravia Bettiol deu esse salto ao espaço, tecendo em bases de ferro, multiplicando os formatos que as suas obras poderiam adquirir, como é o caso do trabalho Granada, da série Transparências Geométricas (1974). Outra artista de destaque é Berenice Gorini, que realizou uma intensa pesquisa com materiais alternativos, como a palha, para a construção de formas orgânicas e vestimentas, essas segundas sendo bem conhecidas. 

Arquitetura e arte
 Trama fica aberta até 26 de fevereiro no segundo andar da Fundação Iberê 

“O grande objetivo da exposição é mostrar os nomes mais relevantes da arte têxtil que são ou atuaram no Rio Grande do Sul e que tiveram uma trajetória relevante nesse segmento, participando de diversas mostras desenvolvidas no país a partir da década de 1970. Também é importante registrar a diversidade dessa produção, que do plano buscou a tridimensionalidade e que da tradicional lã foi para uma diversidade de materiais, mostrando a versatilidade de cada poética percorrida por cada um dos artistas”, diz Grippa.

Peças de impacto
Peças de impacto

Reparação na história da arte
A ideia de contar a história da arte têxtil no RS surgiu durante uma viagem de Carolina Grippa ao Canadá, após uma visita à mostra Sheila Hicks: Material Voices, no Textil Museum of Canada. Sheila consagrou o retorno do têxtil ao campo da arte, desenvolvendo uma obra que há mais 50 anos oscila numa interseção entre arte, design, artesanato e arquitetura.

De volta ao Brasil, Grippa começou a sua pesquisa sobre tapeçaria e arte têxtil. Lembrou-se de apenas duas exposições: Percurso do Artista – GONZAGA, de Luiz Gonzaga, na Sala João Fahrion, na Reitoria da UFRGS (2014), e Zoravia Bettiol – o Lírico e Onírico, no Margs (2016). Ao perceber um vazio historiográfico, foi estudar arte têxtil no trabalho de conclusão de curso no bacharelado em História da Arte da UFRGS, com orientação de Joana Bosak de Figueiredo e, depois, no mestrado em História, Teoria e Crítica de Arte, com orientação de Paulo Gomes. “Há uma história da tapeçaria e arte têxtil que não está nos livros da ‘grande’ História da Arte, havendo algumas razões para esse esquecimento. O primeiro a ser citado é o próprio lugar da tapeçaria na história da arte, cujo papel está, majoritariamente, ligado às artes decorativas, com pequeno ou nenhum destaque no estudo das ‘Belas Artes’”, destaca Grippa no texto curatorial de Trama. 

Precursores da arte têxtil no RS, Zoravia Bettiol e Yeddo Titze embarcaram para Europa, em 1968, em busca de conhecimentos. Yeddo foi a Aubusson, um dos centros de tapeçaria mais reconhecidos na França, sendo uma das cidades em que Jean Lurçat trabalhou intensamente com diversos ateliês, trazendo artistas modernos, como Alexander Calder, Pablo Picasso, para realizarem cartões a fim de serem tecidos, ajudando na modernização da técnica têxtil. Zoravia foi à cidade de Varsóvia, na Polônia, onde havia uma geração de artistas que estavam se voltando ao tecer, sendo estudada como a pintura e a escultura. Com influências bem distintas, eles retornaram ao Estado e foram direto para a sala de aula: Yeddo lecionou na Universidade Federal de Santa Maria, e Zoravia em diversos espaços de Porto Alegre, criando-se, assim, uma geração de artistas ligados ao têxtil.  

Fundação Iberê abre de quintas a domingos
Fundação Iberê abre de quintas a domingos

DESIGN GRÁFICO JAPONÊS

Obra de Ikko Tanaka na Fundação Iberê, em Porto Alegre
Obra de Ikko Tanaka na Fundação Iberê, em Porto Alegre

Realizada pela Fundação Japão em São Paulo, a mostra apresenta 45 cartazes do acervo da Bienal Internacional do Cartaz do México, incluindo exemplares com forte relação com o ukiyo-e, um gênero de estampa japonesa semelhante à xilogravura. A Bienal compilou o trabalho de grandes designers japoneses, que testemunham estilos e períodos do país do sol nascente. “Estamos, sem dúvida, diante da obra, que não é o objetivo, mas o caminho de sete criadores que proporcionam um meio, uma direção e um significado à arte e ao design gráfico, mostrando-nos diferentes formas de manuseio e uma marca característica que os une: a excelência imaginativa, a qualidade de produção e a difícil simplicidade na qual se resolve o desafio de criar um cartaz para comunicar mensagens artísticas, culturais, sociais e comerciais”, escrevem os organizadores da Bienal Internacional do Cartaz do México.

Os artistas
Ikko Tanaka – 
Nascido em Nara, em 1930, se formou na Escola de Belas Artes de Kyoto, no Japão. Depois de trabalhar para a Kanebo Co. Ltda, participou da organização do Nippon Design Center, em 1960. Em 1963, fundou o estúdio de design Ikko Tanaka. Reconhecido internacionalmente, recebeu prêmios da Bienal Internacional de Cartazes de Varsóvia e do Ministério da Educação do Japão, assim como medalha de ouro do New York Art Directors Club, Prêmio de Excelência do Clube de Diretores de Arte, de Tóquio, e o Grande Prêmio do Japão Cultural Design Award. Foi reconhecido no Hall da Fama do Art Directors Club, de Nova York, em 1994, e condecorado com a Medalha Púrpura, em 1995. Já teve seus trabalhos expostos em importantes museus mundiais, como o Museu de Arte Seibu, Museu da Publicidade, em Paris, e Centro Cultural de Arte Contemporânea. Foi curador de exposições para o Museu Victoria e Albert, em Londres. O artista faleceu em 2002.

Kasumasa Nagai – Nasceu em Osaka, em 1929, graduado pelo Departamento de Escultura da Universidade Nacional de Belas Artes e Música de Tóquio, em 1951. Em 1960, se associou à Nippon Design Center, Inc. (NDC), por ocasião de sua fundação, e atuou como diretor executivo até 2001. Foi presidente do júri internacional da XIV Bienal de Design Gráfico de Bruno, República Tcheca. Recebeu vários prêmios nacionais e internacionais em países como Japão, Polônia, Estados Unidos, Rússia e México. Realizou exposições individuais e coletivas, e tem trabalhos em coleções dos museus mais importantes do Japão, de Nova York, da Suíça, da Polônia e de Israel. É membro da Japan Graphic Designers Association (JAGDA), Aliance Graphique Internationale, Tokyo Design Center e Japan Design Commitee.

Mitsuo Katsui – Nasceu em Tóquio, em 1931, e formou-se na Universidade de Tóquio em Artes e Educação. Premiado por excelência em bienais do México, Bruno, Lahti e Varsóvia, bem como pelo Art Director Club, de Nova York. É membro da Japan Graphic Designers Association (JAGDA), e seus cartazes fazem parte das coleções permanentes do Museu de Arte Moderna, em Nova York, e do Museu de Arte Moderna de Toyama, entre outros.

Shigeo Fukuda – Nasceu em Tóquio, em 1932, formou-se na Universidade Nacional de Belas Artes e Música de Tóquio, em 1956. Apresentou exposição individual em 1967, na IBM Gallery, em Nova York, e criou o pôster oficial da Expo Japão. Recebeu medalha de ouro na Bienal Internacional de Cartazes em Varsóvia, na Polônia, em 1972; e foi premiado na Exposição Internacional do Cartaz, em Fort Collins, Colorado, na Bienal Internacional do Cartaz, em Moscou, em 1985, entre outros. Também criou o logotipo para o Festival Nacional de Cultura, em 1986. Em 1989, foi convidado a fazer o pôster comemorativo do bicentenário da Revolução Francesa. Em 1993, fez o cartaz para a Expo Japan, em Paris. Publicou livros sobre o tema, foi presidente da Japan Graphic Designers Association (JAGDA), membro do Comitê ADC de Tóquio, membro da International Graphic Alliance e da Royal Designer for Industry (RDI). O artista faleceu em 2009.

Tadanori Yokoo – Nascido na província de Hyogo, Japão, em 1936. Sua primeira exposição individual aconteceu em 1967, na cidade de Frankfurt. No mesmo ano, participou do coletivo Today’s Creators 67, da Yokohama Citizen’s Galery. Até 1999, apresentou quase todos os anos exposições individuais e coletivas nos principais museus do Japão, como o Tokyo Metropolitan Art e o Museu de Arte Moderna de Quioto. Também expôs, coletivamente e individualmente, no Museu de Arte Moderna de Nova York, nas galerias de arte de Whitechapel e Barbican, bem como no Museu Victoria & Albert, em Londres, no Museu de Arte da Filadélfia, no Museu de Arte Moderna do México e no Museu de Arte Moderna de Los Angeles, entre outras instituições. Também apresentou seu trabalho em bienais de artes gráficas em Paris, Tóquio, Bruno, São Paulo, Bangladesh e Veneza.

Takashi Akiyama – Nasceu na província de Niigata, Japão, em 1952. Formou-se na Universidade Tama de Artes e concluiu mestrado na Universidade de Artes de Tóquio. A maioria de suas obras contém motivos de pássaros e trata de temas ecológicos. Suas atividades estão voltadas para a proteção de aves e da natureza. Em 1992, inclui a aids como um de seus temas principais. Recebeu prêmios da Embaixada da Tunísia, da I Bienal de Cartazes, na Polônia, e foi premiado na 12ª Bienal Internacional de Desenho Gráfico, na República Tcheca. Também recebeu um prêmio em um concurso de pôster para proteção ambiental na África. Entre suas publicações estão “Takashi Akiyama e as palavras da mão esquerda” e o livro “Amor e Aids”. Atualmente, é professor na Universidade Tama de Artes.

U.G. Sato – Nasceu em Tóquio, em 1935. Estudou na Kuwasawa School of Design. Em 1975, fundou a Design Farm. Participou de exposições individuais e coletivas, foi premiado em eventos de design gráfico, cartaz e esculturas, e organizou uma campanha gráfica antinuclear, via fax, em Paris e Tóquio, em protesto contra os testes atômicos realizados pela França. É membro da Alliance Graphique Internationale, Japan Graphic Designers Association e Tokyo Illustrators Society.

Outra mostra na Fundação Iberê Camargo:

Iberê Camargo por Rodrigo Andrade
Segue até 9 de abril de 2023, no 4º andar, a exposição Assombrações: um diálogo pictórico com Iberê Camargo. O artista Rodrigo Andrade (SP) criou versões de doze pinturas de Iberê Camargo, que pertencem ao acervo, para colocá-las lado a lado em Assombrações. A mostra nasce do desejo de encontrar modos de pintar de Iberê, incorporando-os ao seu repertório pictórico, muito embora ele encontre mais de si do que o pintor gaúcho nesta experiência.  

A Fundação Iberê tem o patrocínio de Crown Brand-Building Packaging, Grupo Gerdau, Renner Coatings, Grupo Iesa, Grupo Savar, Grupo GPS, Itaú, CEEE Grupo Equatorial, DLL Group, Lojas Renner, Sulgás e Unifertil, e apoio de Instituto Ling, Ventos do Sul Energia, Dell Technologies, Digicon/Perto, Hilton Hotéis, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, com realização e financiamento da Secretaria Estadual de Cultura/ Pró-Cultura RS, Petrobras Cultural Múltiplas Expressões e da Secretaria Especial da Cultura – Ministério da Cidadania / Governo Federal.

SERVIÇO
Exposições Trama: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul (2º andar) e 7 Mestres do Design Gráfico Japonês (Átrio)
Onde: Fundação Iberê Camargo (Avenida Padre Cacique, 2000 – Bairro Cristal, Porto Alegre (RS)
Visitação: até 26 de fevereiro de 2023, das 14h às 18h, de quintas a domingos

Escrito por
Mais de Eleone Prestes

Andréa Brächer expõe no MARCO, em Mato Grosso do Sul

Com curadoria de Niura Legramante Ribeiro, abre hoje para visitação a  exposição...
Leia Mais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *