Origami arquitetônico: obra de AT Arquitetura

Fachada do restaurante japonês Sakura, no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre, obra do escritório AT Arquitetura
Fachada do restaurante japonês Sakura, no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre, obra do escritório AT Arquitetura (Fotos Marcelo Donadussi, divulgação)

O kirigami é conhecido como o origami arquitetônico, mais uma das encantadoras sutilezas da arte e da cultura japonesas. Ao combinar dobraduras e cortes no papel, cria formas e volumes, fazendo surgir um elemento novo e quase sempre incrível. Quando a representação ganha dimensões reais, o resultado é ainda mais surpreendente.

Fachada do restaurante japonês Sakura, no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre, obra do escritório AT Arquitetura

Se o olhar se detiver para uma observação mais atenta, constatará isso quando passar em frente à nova unidade do restaurante Sakura, no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre. A experiência fica completa em seu interior, mas a fachada sozinha explica o significado de kirigami. O projeto é assinado pela AT Arquitetura, em seu mais recente trabalho, de vários já realizados, para o cliente, que soma três décadas de atuação à frente de restaurantes japoneses.

Fachada do restaurante japonês Sakura, no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre, obra do escritório AT Arquitetura

Volumetria de cheios e vazios

“Foi o conceito do kirigami que permeou e conduziu todas as decisões do projeto, desde a organização do espaço em níveis de piso e forro, até o mobiliário”, explica o arquiteto André Detanico, diretor da AT Arquitetura. Na fachada, de esquina, intercalam-se placas retangulares revestidas em lâminas de madeira natural e em vidro, num bem-elaborado jogo volumétrico.  “Dispostos em uma sequência de planos inclinados, configuram uma divisória permeável, na qual a composição de cheios e vazios permite uma variação surpreendente de pontos de vista do exterior para o interior e vice-versa”, conclui.

Fachada do restaurante japonês Sakura, no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre, obra do escritório AT Arquitetura
Vista conforme a posição integra interior e exterior do restaurante Sakura com sutileza oriental no projeto do escritório AT Arquitetura

Quem está dentro do restaurante pode acompanhar o movimento lá fora, e quem passa pela frente, espiar o que acontece no interior, mas tudo na medida certa, garantindo a privacidade dos comensais. Para quem transita pelo corredor do shopping, fica o desejo de entrar para ver mais.

Fachada do restaurante japonês Sakura, no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre, obra do escritório AT Arquitetura
A Grande Onda de Kanagawa, do artista plástico japonês Hokusai ampliada em papel de parede

Kaiten encoberta pela onda

O salão é a estrela nos 504 metros quadrados de área total do projeto. Nele, estão distribuídos 86 lugares, parte no sushi bar, que tem balcão executado como um monobloco, em Corian. Sobre ele, a esteira kaiten, que caracteriza o restaurante, conduzindo os pratos para escolha dos clientes. Especialmente neste ambiente, não resta dúvida de que os sushis dividirão as atenções com o imenso painel que cobre a parede de fundo e o forro rebaixado, com uma reprodução da célebre obra A Grande Onda de Kanagawa, do artista plástico japonês Hokusai. A imagem, muitas vezes ampliada, já que a xilogravura original mede apenas 26cm X 38cm, foi impressa em papel de parede, com efeito muito marcante.

Restaurante Sakura, no Shopping Iguatemi, em POrto Alegre, projeto da AT Arquitetura

O escritório de arquitetura desenvolveu todos os itens do projeto, das luminárias em LED, que complementam os pontos de luz, também em LED, embutidos no forro preto, ao mobiliário. As mesas, também pretas têm base de chapa metálica dobrada e tampos em madeira laminada, e as cadeiras, na mesma cor, são em compensado multilaminado natural, com acabamento pigmentado e pés em metal. No salão, na parede oposta ao sushi bar, as mesas são acompanhadas em um dos lados por um banco contínuo em madeira com revestimento em laca fosca e estofamento em couro ecológico, ambos na cor preta, que impera, absoluta, em todo o ambiente.

Honorável reverência

Restaurante Sakura, no Shopping Iguatemi, em POrto Alegre, projeto da AT Arquitetura
Ideograma que representa Sakura, flor de cerejeira, ao lado da foto de Hideo Fujimoto, fundador do restaurante

No fundo do restaurante, um painel fotográfico homenageia o fundador do restaurante. A bela foto de Hideo Fujimoto está ao lado do ideograma que representa a logomarca e nome da casa, Sakura, que significaflor de cerejeira”, um ícone da cultura nipônica.

André conta que o maior desafio neste trabalho foi traduzir a maturidade do restaurante e proporcionar uma nova experiência a seus clientes, sem perder sua essência e a tradição. “O exercício de concisão e síntese na concepção deste projeto foram fundamentais em todo o processo de criação”, finaliza.

Mesmo para quem não se aprofunde nas razões que levaram à escolha de cada material, forma ou textura, o projeto atrai pela singularidade. Um trabalho complexo que oferece como resultado a genialidade do simples, limpo e puro.

Restaurante Sakura, no Shopping Iguatemi, em POrto Alegre, projeto da AT Arquitetura

 AT Arquitetura

O escritório foi criado em 1985, inicialmente voltado ao design de móveis. Hoje, trabalha com projetos na área comercial e de edificações. O arquiteto Andre Detanico tem como sócios os também arquitetos Maurício Ceolin e Tarso Carneiro. São da AT Arquitetura os projetos do campus da Unisinos em Porto Alegre, na Avenida Nilo Peçanha, da sede da Unicred, na Avenida Venâncio Aires, e da loja Gobbi Novelle, na Rua Quintino Bocaiúva (que pode ser conferido em detalhes aqui no site), todos na capital gaúcha.

Rua Frederico Mentz, 1.606 – Porto Alegre, RS 

(51) 3325-0033

at.arq.br

A Grande Onda

Na parede, a reprodução da obra A Grande Onda no restaurante Sakura. Saiba mais a respeito dela:A grande Onda

A xilogravura (ukiyo-e) A Grande Onda de Kanagawa foi criada pelo artista plástico japonês Katsushika Hokusai (1760–1849) no início dos anos 1830, dentro do período Edo. É a primeira e mais famosa imagem de uma série chamada Fugaku sanjūrokkei, que mostra 36 vistas do monte Fuji. Há registros de que com os blocos originais de madeira foram impressos cinco mil exemplares da obra, muitos perdidos, mas alguns resgatados de coleções privadas, hoje preservados em grandes museus no mundo todo.

(Texto de Marjori Michelin)

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