Esta residência reúne no projeto o trabalho e o talento de três profissionais. Tudo começou com o spa apresentado pelo escritório Sandro Jasnievez Arquitetura em uma mostra de arquitetura e decoração. Um visitante viu, gostou muito e queria um exatamente igual para sua futura casa no condomínio Ventura Club, em Xangri-Lá, no litoral norte gaúcho. Tornou-se cliente de Sandro, a quem desejava entregar todo o projeto, mas como seu trabalho é voltado unicamente para interiores, convidou a colega de profissão Cristiane Rauber para cuidar da arquitetura civil. A eles, na fase final da obra, juntou-se a paisagista Soraia Pereira para pontuar de verde o conjunto implantado no terreno de esquina com 540 metros quadrados.
Já na primeira reunião com os arquitetos, o casal de clientes, ele, engenheiro civil, conhecedor dos processos envolvidos na construção, deixou claro que não queria uma “casa-loja”, segundo relata Cristiana. “Além de fazer questão de houvesse telhado, e o spa que motivou a contratação de Sandro, desejava uma residência espaçosa, mas não excessivamente grande, confortável e acolhedora para conviver e receber seus filhos e netos”. “Graças justamente à profissão do cliente, nossos encontros sempre foram muito objetivos, o que facilitou o trabalho desde o início”, relata o arquiteto.
Nos 470 metros quadrados do projeto, estão dispostos hall, lavabo, suíte para hóspedes, cozinha, lavanderia e depósito, mais living, com estar, jantar e espaço gourmet, este, conectado com a área externa, onde se encontram uma agradável zona de estar, o tão aguardado spa e um banheiro. No pavimento superior, ficam as suítes: máster para o casal proprietário do imóvel, e outras duas para seus filhos, a sala de jogos e o home-office. O projeto previu também a futura instalação de um elevador residencial.
Aproveitamento máximo
A primeira tarefa de Cristiane foi estudar a implantação do projeto, já que os desejos do cliente precisavam ser acomodados no terreno, “não muito grande”, segundo ela, o que resultou no aproveitamento máximo da taxa de ocupação permitida. “A posição solar, ventos e visuais determinaram o zoneamento, e o fato de estar em um condomínio fechado favoreceu maiores aberturas e o contato com a rua”, conta a arquiteta. Com esses elementos à disposição, ela diz ter idealizado desde o princípio “uma casa aberta, aproveitando a luz natural, que fosse integrada ao exterior, mas sem abrir mão da privacidade”.
O passo seguinte foi a escolha de materiais que conferissem identidade ao conjunto. “Para atender o cliente, sem cair no tradicional, sugeri usar tijolo aliado a concreto, todo moldado in loco”, diz. Cristiane optou por uma estrutura contundente, de concreto armado e aparente, com grandes vãos, lajes inclinadas, pergolados, pé-direito duplo, pelo qual os futuros moradores haviam mostrado simpatia, e beiral com viga calha em todo o perímetro. “A aceitação ao uso da viga calha foi celebrada, mas também nos trouxe desafios, como resolver as descidas de águas pluviais com paredes duplas e volumes tipo caixas, que funcionaram como grandes shafts, criando um eficiente sistema de escoamento”, explica.
Para garantir total conforto, além das paredes duplas com isolamento térmico, toda a casa recebeu piso aquecido, vidros duplos, lareira à lenha tradicional, sistema de ar condicionado, aquecimento solar e telhado também com isolamento. Entre projeto e obra, foram 16 meses de trabalho.
Uma só linguagem
Cristiane e Sandro trabalharam juntos desde o início e isso fica claro quando se percebe exterior e interiores ligados por uma mesma linguagem. Bons exemplos são as superfícies de alvenaria à vista, o concreto aparente do exterior que se repete internamente, e a escada que leva ao segundo piso. Ela definiu uma estrutura marcante, com degraus moldados em concreto, enquanto Sandro finalizou com madeira e proteções de vidro. Juntos, geraram um resultado de aconchego e leveza.
O escritório de Sandro respondeu pelo projeto e acompanhamento da execução dos interiores da residência. Na área social interna, são 95 metros quadrados finalizados com cores bem orgânicas, a pedido dos clientes, que também deixaram expressa sua preferência por texturas marcantes. Eles recomendaram, ainda, o uso enxuto de móveis, sem nada supérfluo, mantendo uma circulação livre, preparada para o vaivém das crianças da família.
A superfície de tijolos à vista da lareira foi finalizada com hidrorrepelente sem brilho, “para não perder seu aspecto natural”, diz Sandro, explicando que o contíguo painel da TV foi montado com placas de mármore travertino navona.
Os estofados foram revestidos com poliéster num agradável tom de cinza azulado. Apesar de sintético, o tecido tem aspecto de linho, e mantém a proposta de usar texturas, que segue na mesa de centro indonésia, toda de madeira com pés entalhados e satinados cinza clarinho. Também a mesa lateral defende a presença orgânica, com tampo de vidro que permite apreciar inteiramente a base formada pelo tronco de madeira natural.
Nas costas do sofá, o aparador é de madeira de demolição e, ao fundo, a poltrona de leitura também tem revestimento de poliéster, só que num tom mais escuro, próximo ao Tiffany. A luminária com cúpula escura e pé de madeira era do acervo dos clientes e foi agregada ao projeto.
Luz, muita luz!
O conjunto da área social foi beneficiado pelo pé-direito duplo, com generosos panos de vidro que garantiram iluminação natural abundante, destacando cada detalhe do estar e do jantar. Note a presença de vários itens orientais, a começar pelo Buda sobre a mesa lateral ao lado do sofá. São resultado de um trabalho conjunto dos proprietários da casa e de Sandro, que escolheram cuidadosamente as peças em lojas de Porto Alegre e do litoral. Nessas buscas, o arquiteto se deparou com o barco que, de imediato, foi transformado na estante suspensa que se vê no hall de entrada, postado acima das cadeiras esculpidas no acolhedor formato de mãos em concha, do acervo dos clientes.
Mesa Mangue, de Roque Frizzo para a SaccaroNo jantar, o maior destaque é a mesa Mangue, do designer Roque Frizzo, que deixa patente o desejo de trazer a natureza para o interior da casa com sua sinuosa base. Sobre ela, o lustre reforça a marcante composição com seus chifres e pequenas cúpulas de pergaminho. A cristaleira, desenhada pelo escritório de Sandro, tem acabamento em microtextura verde-oliva e, na parte superior, é ripada, escondendo habilmente o ar condicionado split.
Integrada ao living, a área gourmet é independente da cozinha, que não aparece nas fotos. Tem bancada em Silestone e móveis com acabamento em microtextura na cor cáqui, complementados pelas cadeiras Master, de Philippe Starck. Na base da bancada, o porcelanato pastilhado dá movimento ao móvel e se mantém dentro da paleta de cores eleita. Na churrasqueira, o revestimento é Dekton Keranium, “superadequado para o uso, devido à sua resistência ao fogo”. A bonita luminária tripla de aço corten que pende sobre a bancada foi desenhado pelo escritório de Sandro.
Enfim, o spa
Na área externa, o tão desejado spa está inserido em uma prainha com borda infinita, e foi montado sobre base de concreto revestida em porcelanato antiderrapante. A parede de fundo foi finalizada com quartzito Crassus, e uma galeria subterrânea garante acesso para manutenção dos equipamentos.
Complementam o convite para o convívio no espaço a mesa redonda e as cadeiras, do acervo dos proprietários. Mesma origem das espreguiçadeiras azuis e do seat Garden, que dão um toque a mais de cor para o conjunto. O projeto luminotécnico desenvolvido pelo escritório de Sandro privilegiou iluminação tênue e aconchegante, segundo o arquiteto, que diz ter especificado a temperatura de cor de 3000K para a maioria das lâmpadas”. A sanca invertida dimerizável no forro de gesso também foi idealizada com a intenção de criar acolhimento, juntamente com os spots com lâmpadas PAR 30 na laje inclinada, “ideal para o pé-direito duplo”, diz.
Flores no verão e no inverno
Responsável pelo paisagismo, Soraia Pereira explica que levou em consideração vários itens antes de elaborar o projeto e escolher as espécies. Suas escolhas recaíram sobre plantas resistentes ao clima e de fácil manutenção, incluindo flores, atendendo a pedido da dona da casa. Assim, as azaleias dão cor no inverno, enquanto os agapantos azuis estão encarregados de receber a família nas festas de final de ano com muitas flores.
“A arquitetura imponente da casa, a posição do terreno, seus níveis em relação à rua, a circulação em torno da residência e, ainda, a privacidade foram determinantes para definir o paisagismo”, ensina Soraia. Por isso, entre outras, escolheu palmeiras washingtonianas para fortalecer o clima praiano, acompanhando a escala da construção, e resistentes fórmios, “com a repetição da verticalidade, imprimem uma estética moderna ao jardim”, justifica. Há também podocarpus na divisa do terreno, helicônias, grama esmeralda, e bambu mossô.
Um jardim construído na medida certa para finalizar o projeto desta casa repleta de luz natural, com circulação fluida, natural integração entre interior e exterior, parcimônia no uso da cor e distante dos excessos. A melhor das definições para este projeto provavelmente seja a da arquiteta Cristiane, em espanhol: “sencillo”. Ou seja, simples, tranquilo, descomplicado, harmônico e natural…
Cristiane Rauber
Graduada pela UFRGS em 1997, a arquiteta Cristiane Rauber cursou mestrado em Teoria e História da Arquitetura, na Universidade Politécnica da Catalunha, em Barcelona, na Espanha, onde viveu por cinco anos. Trabalha nas áreas de arquitetura residencial e comercial, e de interiores.
(51) 99930-4094
cristianerauber@gmail.com
www.cristianerauber.wixsite.com/arquitetura
Sandro Jasnievez Arquitetura
O escritório Sandro Jasnievez Arquitetura atua há 15 anos em interiores residenciais, comerciais e corporativos. O arquiteto é habitual participante de eventos de arquitetura e decoração, nos quais costuma apresentar projetos com temáticas inovadoras.
Avenida José de Alencar, 521/805, Porto Alegre
(51) 3012-5930
@sandrojasnievezarquiteto
www.sandrojasnievez.arq.br
Soraia Pereira Paisagismo e Designer de Interiores
Graduada em Design de Interiores, Soraia Pereira trabalha como paisagista desde 1995, área na qual já recebeu prêmios. Levam sua assinatura e podem ser visitados os jardins do Centro Histórico da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
so_garden@hotmail.com
(51) 99807-4076
(Texto Marjori Michelin)