Pinacoteca de São Paulo expõe Marcia Pastore: contracorpo

arte na Pinacoreca de São Paulo
Obra de Marcia Pastore. Vista da exposição na Galeria Baró Sena, São Paulo, 2000 Alumínio pintado 80 x 60 x 35cm (Foto Eduardo Ortega, divulgação)

Entre artes plásticas e arquitetura, a obra de Marcia Pastore ocupará de 23 de novembro de 2019 a 6 de abril de 2020 a Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. A exposição Marcia Pastore: contracorpo exibe um recorte da produção da artista paulista reunindo, no quarto andar da Pinacoteca – Edifício Pina Estação, 40 trabalhos produzidos ao longo de quase três décadas. Com curadoria de Ana Maria Belluzzo, o conjunto de peças situa-se na intersecção entre as artes plásticas e a arquitetura ao enfatizar as relações poéticas entre força, matéria e espaço.

Exposição na Pinacoteca de São Paulo
São 40 trabalhos expostos na Pinacoteca

A prática escultórica de Pastore indaga sobre qualidades intrínsecas de materiais muito diversos (borracha, gesso, ferro, etc) e atravessa tempos e técnicas distintas ao revisitar tanto tradições escultóricas como técnicas de fabricação e de moldagem. Para tanto, a artista parte, não do desenho, mas do embate direto dos materiais, do lugar e da experimentação, valendo-se de uma linguagem que remete a procedimentos da engenharia civil, sem perder de vista a articulação orgânica dos materiais. Em sua obra, as formas surgem tanto como iminência de algo que está por acontecer como rastro de uma presença corpórea.

Na mostra realizada na Pinacoteca, o visitante é convidado a percorrer essas obras, com seus devires e rastros, que parecem emergir da própria arquitetura. Entre elas, quatro trabalhos inéditos, concebidos especialmente para a exposição, incluindo Linha-d´água e Linhas de força. Ambos integram também o conjunto criações marcantes em sua trajetória, a exemplo do relevo Sem título (1999) – feito em bronze com banho de prata e pertencente ao acervo do museu — e Peso contrapeso, apresentado pela primeira vez na Funarte, em 2012.

Para estabelecer um diálogo entre esse último e a arquitetura do edifício da Pinacoteca, a artista abriu janelas no forro do teto do museu, de modo que os cabos que sustentam o trabalho fossem pendurados no cruzamento dos caibros e das tesouras que desenham o telhado, conquistando sua estabilidade a partir da interação entre os tubos de metal, a roldana e a anilha.

– Era necessário que esse jogo se desse com as forças estruturais arquitetônicas do lugar – diz Marcia.

Esse interesse pela dinâmica dos materiais remete tanto aos conceitos da arte povera, corrente artística que também privilegia a poética das relações entre as coisas, como à adolescência da artista. Aos 16 anos, Marcia começou a trabalhar em uma marcenaria que desenvolvia projetos de móveis para decoração.

– Eu acompanhava toda a execução, desde o desenho ao desenvolvimento do produto. Isso começou a me dar uma experiência sobre o comportamento dos materiais e os recursos que eu podia tirar deles – conta a artista.

A distribuição das peças no espaço foi pensada pela artista e pela curadora Ana Maria Belluzzo a fim de prescindir de uma ordem cronológica:

– O que se pretende destacar na mostra é a forma como a artista realiza o manejo do corpo da obra, que se encontra em situação de interdependência com meio no qual se localiza, tornando instigante o momento de equilíbrio e de sustentação de cada peça no espaço.

Tal equilíbrio entre matéria e espaço é tensionado muitas vezes até seu ponto máximo. Em Risco (2013), por exemplo, cada tubo traz em sua ponta superior um grafite enquanto a ponta inferior é seca, como a de um compasso, garantindo certo atrito com o chão.

– Alguns tubos estão quase deitados. É muito impressionante continuarem parados. Eu levo os trabalhos a esse limite: é até aqui que ele aguenta ficar de pé, é aqui que ele vai ficar. Não deixo uma margem de segurança, essa iminência do movimento ou do perigo deixa tudo em suspensão – finaliza a artista.

SOBRE MARCIA PASTORE
Marcia Pastore nasceu em São Paulo, em 1964, onde vive e trabalha. Expôs por duas vezes no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro [1993 e 2010] e no Centro Cultural Maria Antônia [2002 e 2010]; uma vez no Museu de Saúde Pública Emílio Ribas [2010], no Centro Cultural São Paulo [2000], no Museu de Arte Contemporânea da USP [1990], na Caixa Cultural, de Fortaleza [2012], na Funarte de São Paulo [2012], na Biblioteca Mario de Andrade [2015] e no MuBE [2017]. Integrou importantes exposições coletivas no Museu de Arte Contemporânea da USP [1992], no Museu de Arte Moderna de São Paulo [1990] e no Palácio das Artes, em Belo Horizonte [1990]. Em 1998 e em 2000, participou da Arco — Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madrid, e em 2004 da inauguração do Vestfossen Kunst Laboratorium [Oslo, Noruega]. Suas obras estão em coleções como na Pinacoteca do Estado de São Paulo, na Pinacoteca Municipal de São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea da USP, no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto.

SERVIÇO
Marcia Pastore: contracorpo
Curadoria de Ana Maria Belluzzo
Abertura: 23 de novembro de 2019, sábado, às 11h
Visitação: 23 de novembro de 2019 a 6 de abril de 2020
De quarta a segunda, das 10h às 17h30 — com permanência até as 18h
Pinacoteca de São Paulo:
Edifício Pina Estação
Largo General Osório, 66 — Luz – 4º andar
Gratuita todos os dias.

Escrito por
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