A Casa de Vidro do Instituto Bardi ganhou uma estrutura temporária projetada para receber eventos até o final de março, o primeiro pavilhão de verão do espaço. A instituição tem o objetivo de ativar outros ambientes da casa enquanto recebe a exposição Sonia Gomes – Ainda assim me levanto, realizada em parceria com o Museu de Arte de São Paulo (Masp), que ocupa o salão principal. Instalado no jardim, o pavilhão temporário tem capacidade para até 220 convidados e irá receber diversos programas culturais.
Apresentações de música e dança, palestras de arquitetura, arte e design, cursos de desenho, jardinagem e até ações relacionadas à gastronomia integram a programação do ambiente. Projetado pela arquiteta Sol Camacho, o pavilhão foi primariamente inspirado nos desenhos de estruturas efêmeras, assim como outros projetos de Lina Bo Bardi, como o restaurante Coaty, localizado em Salvador.
As linhas orgânicas da estrutura são fruto de um cuidadoso estudo das árvores que o rodeiam, do acesso ao ateliê e da rampa de pedra sobre a qual se apoia. Enquanto segue as possibilidades oferecidas pelo jardim, o pavilhão cria novas relações com a arquitetura e uma maior proximidade com as árvores. “Lina concebeu e desenhou a casa em interação total com a natureza. Ela criou, plantou e cuidou do jardim da Casa de Vidro por quatro décadas. O jardim e a casa se complementam. O pavilhão tinha que seguir essa ideia”, revela Camacho.
A ideia dos pilares pretos foi misturá-los com as árvores, sustentando a cobertura de madeira, que também segue a lógica de mesclar-se com o contexto. Embora a estrutura do pavilhão pareça ser “low tech”, há muita tecnologia envolvida no processo. O formato foi viabilizado graças ao material: Cross Laminated Timber (CLT), que é a tecnologia de construção que utiliza placas formadas por três camadas de madeira certificada com infinitas possibilidades formais, muito utilizada nos Estados Unidos e Europa.
Esse material é flexível, adaptável, de fácil uso e rápida montagem. Ele foi cortado em uma grande máquina router de CNC, em um leito de 18×6 metros, e instalado através de uma grua de 20 metros de comprimento por um time de carpinteiros coordenados pelo engenheiro Alan Dias, da Carpinteira. O processo de construção levou menos de duas semanas. “A Casa de Vidro é uma das poucas instituições culturais que discute, exibe e promove o debate sobre arquitetura contemporânea. A ideia de construir o pavilhão com CLT teve a clara intenção de trazer a conversa sobre novos materiais e possibilidades de construção no contexto brasileiro”, ressalta Camacho.
O desenho, que enquadra a casa, e a escolha de material foram também pensados dentro do contexto de preservação do patrimônio. A Casa de Vidro é tombada como patrimônio por todas as três instâncias competentes desde 1986. “O pavilhão é uma intervenção temporária na Casa e sua temporalidade é uma parte importante do projeto. A inauguração da arquitetura efêmera foi um grande sucesso, com o primeiro evento de arrecadação de fundos realizado pelo Instituto onde Maria Bethânia cantou para um público de 250 convidados”, afirma Sonia Guarita, presidente do conselho de administração do instituto.