Blue is the new black, sentencia o arquiteto Daniel Wilges apresentando este projeto. Fica fácil entender, quando se vê como ele distribuiu a tonalidade pelo apartamento de 40 metros quadrados na Avenida Nilo Peçanha, próximo ao shopping Iguatemi, em Porto Alegre. As reduzidas dimensões do imóvel, no qual vivem dois parceiros e seus gatos, Yuri, que é quem aparece nas fotos, e Antonieta, que preferiu o anonimato, não foram empecilho para o profissional. O resultado é um projeto cheio de personalidade, onde cada centímetro foi bem aproveitado.
O primeiro passo do arquiteto foi integrar a sacada e a cozinha, que originalmente eram separadas, à área social, criando um único e mais amplo ambiente. Uma das características do trabalho do escritório de Daniel é o uso habitual de diagonais e, aqui, o recurso foi fundamental, “resolveram com dinamismo a distribuição dos espaços, agregando sofisticação ao layout”, diz seu titular. A cartela de cores reduzida, em tons de concreto, tem o azul no centro, escolhida pelo fato dele considerá-la a mais agradável ao olho humano: “reproduz o céu”, diz. Em todo o apartamento, o piso é vinílico, mais um elemento a dar unidade e amplitude.
Espelho meu: a arte de multiplicar
O azul está fortemente presente na cozinha, que tem móveis revestidos em laca fosca nesta cor, que também cobre o forro, onde a iluminação embutida garante luz suficiente para dar conta dos afazeres de forno e fogão. O tampo é em vidro acidato. A mesa de jantar tem desenho do arquiteto, em vidro pintado de branco, e é acompanhada por cadeiras com base em madeira e assento e encosto em couro, do estudiobola. Os eletrodomésticos em aço seguem a gama de cinzas proposta para discretamente dar base ao azul. Sobre a mesa de refeições, o móvel com portas em espelho “duplica” o espaço e resolve a questão de espaço para guardar itens de uso cotidiano.
No living, a tonalidade dominante foi reservada ao sofá azul-celeste, de três lugares, da Gobbi Novelle, à poltrona winge em couro, da Brava Forma, num tom bem escuro, e ao pufe da linha Vintage, de nuance igualmente profunda, inseridos no fundo de cimento queimado que reveste as paredes. O contraste maior é dado pela cortina preta em sarja, simples e correta. As vigas em concreto já existentes no teto foram valorizadas pelo projeto luminotécnico, sem sombra de dúvida, determinante no resultado final deste apartamento. Pontual e indireta, a iluminação reorganiza os ambientes, dando-lhes, no momento certo, uma inesperada imponência.
Retrato de Yuri
Todos os detalhes consideram perfeitamente as dimensões do imóvel, o que permitiu usar mais elementos sem causar sobrecarga e, principalmente, preservando a fluidez da circulação. Caso da pequeníssima mesa em metal e mármore em frente ao sofá: cumpre sua função, sem tomar espaço. A mesa lateral redonda é maior, mas não foge da proposta. Sobre ela, o vaso que foi trazido de Murano pelo casal, tem desenhos em ouro e casa bem com o tapete persa, que agregou um sutil toque clássico à linguagem bem urbana da maioria dos outros itens. Na parede ao lado da mesa, o desenho é um retrato de Yuri, dando bem a importância do felino na estrutura familiar dos moradores.
O painel que abriga a TV e a lareira é em porcelanato, “cortado em marmoraria em 45 graus”, explica o arquiteto. Sob o bloco da lareira, a fita de led causa um efeito bacana. O vaso em vidro bem colorido também veio da ilha de Murano.
Um box para dois
A suíte é um capítulo extra, uma bossa só. A cor mestra está presente na base da cama, em laca fosca, com fita de LED embutida que parece fazê-la flutuar, enquanto a marcenaria, que já estava no apartamento, é branca. O gran finale é tarefa da iluminação, que dá dramaticidade única ao dormitório, tornando-o todo azul. O painel em espelho, que amplia toda a área, cobre um roupeiro que já estava no apartamento. A elegante pia foi deslocada para fora do banheiro, com a construção de uma parede em gesso, em diagonal, também coberta por espelho. Em sua bancada, o porcelanato foi cortado com marmoraria 45 graus, e os metais dourados escolhidos porque “confirmam uma referência dos anos 1960-1970, bem em alta na decoração”, defende Daniel.
No banheiro, o arquiteto adotou a linha less is more, aplicando um único revestimento, o mesmo porcelanato do painel da lareira, com metais também amarelos. A melhor surpresa está nos dois chuveiros do box, ideia trazida pelo casal de suas muitas viagens pelo mundo. Parece prático, divertido e (por que não?), bem sexy.
Daniel Wilges Arquitetura
A atuação do escritório Daniel Wilges Arquitetura inclui projetos arquitetônicos e interiores residenciais e comerciais, da concepção à execução. Um de seus focos é voltado ao restauro de imóveis antigos com valor arquitetônico. O titular classifica seu trabalho como minimalista, já que foge dos excessos, e dá bastante atenção aos projetos luminotécnicos, que considera importantes em seus projetos.
Rua Duque de Caxias, 1220/41
(51) 3084-1715 Porto Alegre, RS
(Fotos Cristiano Bauce, Divulgação e texto Marjori Michelin)