Seriedade, sobriedade e estabilidade, sim. Sisudez, não. Por isso, nada a estranhar que sejam duas cadeiras Vértice revestidas com tecido cor de laranja, num padrão chevron miúdo, que atraiam o olhar de quem chega a este escritório de advocacia localizado no Trend City Center, no bairro Praia de Belas, em Porto Alegre. Postadas à frente de um painel formado com placas cimentícias brancas, numa marcante volumetria geométrica, elas ocupam um dos recantos da recepção no projeto assinado pela Mundstock Arquitetura, das irmãs Lisandra e Luana Mundstock.
Com uma área de 120 metros quadrados pela frente, as arquitetas partiram do zero e com carta branca dos clientes, quatro advogados que já trabalhavam juntos em outro endereço. “Era a primeira ocupação do imóvel, o que nos deu bastante liberdade para criar, mas havia pressa”, diz Lisandra, com quem conversamos. “O projeto foi criado e executado num curto espaço de cerca de seis meses, “os advogados queriam entregar a sala que ocupavam anteriormente e tivemos que nos ajustar a um cronograma apertado”.
Mangas arregaçadas, o espaço foi dividido em recepção, quatro salas individuais para os advogados sócios, uma sala coletiva com oito estações de trabalho, biblioteca, sala de reuniões, uma sala de estar, com direito a charutaria, frigobar e adega, para receber informalmente clientes ou para reunir os próprios advogados de forma descontraída, copa e dois lavabos.
Direito a personalização
Na recepção, as cadeiras laranja ganharam a companhia de uma pequena mesa saarinen, as três postadas sobre porcelanato em tom de concreto claro. Sóbrio e moderno, o revestimento foi aplicado também no piso das áreas de circulação e na sala de estar, “nesta, por uma das finalidades propostas, que é de fumar charutos, tornar inviável o uso do carpete listrado em dois tons de cinza, que foi colocado nas outras áreas para esquentar os ambientes”, explica a arquiteta.
As salas individuais dos quatro sócios seguem basicamente o mesmo padrão, classudo, mas não rígido. Todas as divisórias são em vidro duplo, garantindo isolamento acústico, e as esquadrias em metal têm tom cinza-chumbo com persianas internas para controlar o nível desejado de privacidade. Apesar dessa unidade, algumas peculiaridades foram respeitadas, de acordo com as caraterísticas de cada ocupante e também com a localização na planta. Um dos advogados, por exemplo, ganhou uma cadeira de leitura Charles Eames em couro vermelho em seu espaço, repetindo o agradável impacto visual da recepção, com um toque clássico de cor; outro, cuja sala é maior do que as demais, foi brindado com um pequeno ambiente de estar exclusivo.
Licença plena para o conforto
Na sala de reuniões, que serve a todo o escritório, a grande mesa de dez lugares tem base e tampo em mármore carrara, mesmo material do balcão da recepção, e se destaca ainda mais graças às duas luminárias DNA que pendem sobre ela, formando um conjunto com oito lâmpadas de led, mesmo tipo de iluminação utilizado em todo o projeto. No lugar das habituais e às vezes enfadonhas cadeiras de uso corporativo, completam a mesa confortáveis Queen com braços, em madeira wenge, telinha e estofamento em camurça cinza. Em contraste com a elegante, porém austera, porta preta, suavizam a atmosfera o forro e as persianas em madeira. Estas, se repetem na sala dos charutos, diferenciando os dois ambientes dos demais, nos quais as cortinas são todas do tipo rolô, pretas.
Os lavabos, a copa, próxima à recepção para facilitar o serviço, e a biblioteca complementam as áreas de uso comum, marcadas pela presença de acolhedores painéis em madeira e pelo fluxo fluido e bem natural, intenção das arquitetas desde o início do projeto. Para acomodar os livros do escritório, destinados a consultas de todos os advogados, elas escolheram um recanto junto à circulação. Visualmente leve, parece estar suspensa, à frente da parede de vidro, o que possibilita a passagem de luz para a sala das estações de trabalho a suas costas. Como funcionalidade era uma das palavras-chave deste projeto, na face voltada à equipe de trabalho, a parede em vidro foi preparada para servir como prático quadro-negro.
Numa passada final de olhos pelo projeto, é possível concluir que as arquitetas conseguiram expressar todos aqueles atributos indispensáveis quando o assunto se relaciona à área jurídica, sem perder a singular noção do humano, na qual conforto, acolhimento e uma certa dose de informalidade, capaz de aproximar em vez de afastar, só fazem bem.
Mundstock Arquitetura
Depois de trabalharem separadamente com outros arquitetos e ter seus projetos e talento reconhecidos pelo mercado, as irmãs Lisandra e Luana Mundstock criaram seu próprio escritório há cinco anos, com olhos voltados aos mercados residencial e corporativo.
A Mundstock Arquitetura assina a Sala de Reuniões Informal na CasaCor RS 2017, que pode ser visitada até 27 de agosto.